Quando o mundo foi feito
Eu era anjo mandado para cá
Para ajudar na arrumação das coisas
Depois virei cliente mesopotâmico
Depois virei escravo egípcio
Depois virei efebo ateniense
Depois virei cortesã romana
Depois virei serva feudal
Depois virei mercador renascentista
Depois virei escravo industrial
Hoje sou tudo isso ainda querendo ser artista
Sem casa, sem dinheiro
Só a vontade, só o sonho
So o devaneio, só a loucura
Mas nesse circo neoliberal
Que faz de mim palhaço
Eu navego em mares cansados
cansados de serem navegados
Mas nesse picadeiro aquecidamente globalizado
Eu não quero me cobrir em bandeiras
Me esconder em ideologias
Me enganar em filosofias
Pois eu só digo coisas que já foram ditas
E só escrevo coisas que já foram escritas.