
De repente
Surgem no território
Da minha mente
Os deusorixás
Que são fruto do amor
Dos deuses gregos
Com os ancestrais iorubás
Mítico cenário
Afro-arcaico
Que em seus ritos
Oferecem-se
Plantas, bichos
E até os próprios filhos
Entre guerras e sedições
Domínios e libações
Entre o irracional e o lógico
Entre o real e o mitológico
Há a necessidade
De se deflorar
A origem de todas as coisas
De definir o princípio
De tudo que se vê
A dificuldade de
Se reconhecer
No que não se entende
O desejo de intuir
O que não se pressente
Brasil,
Casa euro-africana
Acolhendo aristocratas,
escravos e estrangeiros
Em suas entranhas
Sangrando
A complexa narrativa
Fecundando
A herança corrosiva
Da mistura
Mitos mulatos
pululam de céus, ilhas e campos
De templos e terreiros
Abençoam e espraguejam
Nas cidades, favelas
E nas bocas dos formigueiros
No limite
Entre a ferida e o pus
Vingando a morte
De oráculos e vudus
Fazendo amor
Com deuses
E mortais
Com pessoas de carne e osso
E seres irreais
Cercados por
Pomba-giras e sátiros
Ninfas e arcanjos malandros
Que brindam
Com o vinho de Dionísio
E o sangue de Oxalá-Cristo
O limite
Entre o santo e o profano
E de repente
Surgem no território
Da minha mente
Os deusorixás
Que são fruto do amor
Dos deuses gregos
Com os ancestrais iorubás
Marcio Rufino