"Marcio é maravilhoso

Marcio é divino

Marcio é moço fino

Rufino é homem com olhar de menino

Marcio é decidido

Marcio é mestre, brilha no ensino

Marcio é guerreiro...

E nesse Emaranhado Rufiniano, quero me emaranhar."

(Camila Senna)















quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Monstro Teimosia


A vida é uma ilha flutuante

Sem porto fixo, sem norte.

Quanto mais se nada em sua direção

Mais ela foge.

O desejo vive nessa ilha.

Sedento, faminto, leproso.

Cego, banguela, horroroso.



Do alto mar já se vê o Morro do Pensamento

Onde as asas de Deus protegem a todos nós.

Atrás do morro vive um monstro bonzinho

Que estrangula

Mas só aperta e não machuca.

É o monstro Teimosia

Animal feroz que come as próprias patas

Para escapar da armadilha.

As patas são digeridas e defecadas.

Depois renascem firmes

Com as garras ainda mais afiadas.



E em todo esse emaranhado

Minha mais nobre atitude

Foi em cada lugar que passei ter deixado

Um pouco de meu pecado e de minha virtude

Monstro Teimosia que conta o irrevelável.

Monstro Teimosia que se transforma em noite

E nos banha de prazer e mistério.

O beijo que não se deu.

O sexo que nunca aconteceu.



Com o vento eu corro, pulo e rastejo.

Em qualquer brejo, em qualquer engenho.

Eu sopro em qualquer lugar

Mas ninguém sabe de onde eu venho.



E em todo esse emaranhado

Minha mais nobre atitude

Foi em cada lugar que passei ter deixado

Um pouco de meu pecado e de minha virtude.



Teimosia inexorável, soberba, sonhadora.

De gosto louco, bêbado, exótico.

Conivente com monstros depravados

Que se acariciam

Em frente à gigantesca tela plana de cinema erótico.



E quando as ondas duramente retardadas

Do mar Cáspio do meu riso

Baterem nas pedras moles da minha segurança

Eu vou me banhar num fumegante rio

Para que muito além do meu calcanhar

Seja meu corpo todo uma bonança.



Teimosia que não quer eu seja o sapo que se transforma em príncipe

Mas quer que eu seja o sapo que devora auroras.

Teimosia que não que que eu seja o cão

Que se faz de anjo de luz para iludir e enganar

Mas o cão que ladra para a luz da lua

Para acalentar o sono e sonhar.



E em todo esse emaranhado

Minha mais nobre atitude

Foi em cada lugar que passei ter deixado

Um pouco de meu pecado e de minha virtude.


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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Louco Currículo






Quando o mundo foi feito



Eu era anjo mandado para cá



Para ajudar na arrumação das coisas



Depois virei cliente mesopotâmico



Depois virei escravo egípcio



Depois virei efebo ateniense



Depois virei cortesã romana



Depois virei serva feudal



Depois virei mercador renascentista



Depois virei escravo industrial



Hoje sou tudo isso ainda querendo ser artista



Sem casa, sem dinheiro



Só a vontade, só o sonho



So o devaneio, só a loucura



Mas nesse circo neoliberal



Que faz de mim palhaço



Eu navego em mares cansados



cansados de serem navegados



Mas nesse picadeiro aquecidamente globalizado



Eu não quero me cobrir em bandeiras



Me esconder em ideologias



Me enganar em filosofias



Pois eu só digo coisas que já foram ditas



E só escrevo coisas que já foram escritas.








sábado, 12 de julho de 2008

Ficções




Eu quero todos os sonhos



Eu quero toda as ilusões



Eu quero toda as mentiras



Eu quero toda as ficções.






Que venham os reis



Que se intrometam as bruxas



Que apareçam as princezas



Que renasçam os magos.






Vamos brincar de tudo



Que aceitemos as verdades lúdicas



Que trespassam o insosso da realidade



E sejam elas de utilidade pública.






Que o pensamento seja a máquina do tempo



E o chão palco abençoado



Onde nós atores indisciplinados



Captemos ondas de gozo e burilamento






Os personagens que ainda não nasceram



Se despregaram um dos outros



Onde até então se roçavam nus e inconscientes.



Que eles tomem pensamento, corpo e roupa.



E partam para a ação intensamente.






Não os conheço, mas eles já gritam em meu ouvido



Querendo que eu dê-lhes a luz com meus dedos e minha mente



E eu finjo que os ignoro, enlouquecendo-os



E eles me enlouquecendo num só gemido.






São piratas, prostitutas, imperadores,



Gays, padres e doutores.



Monstros, príncipes, bandidos,



Donas de casas, crianças e mendigos.






Anjos, duendes e anônimos,



Fadas, ninfas do bosque e demônios.



Malandros, homens sérios, falsos morenos,



Verdadeira louras, falsas virgens, nós mesmos.






sexta-feira, 11 de julho de 2008

A maior tecnologia da educação.


Me pediram para fazer um poema sobre tecnologia e didática
Mas há tantas provas, tantos estudos, tantos exercícios
Que não consegui realizar a proeza de forma assim tão prática.

Me pediram para fazer um poema sobre didática e tecnologia
Mas há tantos problemas, tantos pensamentos, tantas técnicas
Que mesmo tentando buscar em vários discursos, em diversas teorias
Não teve como atrair as palavras e organizar as métricas.

Mas quando o tema bate na porta do pensamento
E este sente o fusco-fusco da inspiração
Nascem divagações, fantasias e teoremas
Que tomam seus contornos e invadem a imaginação.

Pensei então na imprensa, filha de Gutenberg
Na expansão marítima das Grandes Navegações, mãe da globalização
Na "Belle Époque", filha da industrialização
Na aventura intelectual da internet.

Descubro que entre o desenho da letra no quadro negro à giz
E a pintura da parede de pedra na caverna
Há o instrumento, a máquina, a mola propulsora e natural
Que pela emoção, pelo ímpeto, pela ousadia
Cria as diversas linguagens e atinge suas metas.

Entre o retroprojetor e o data-show
Entre o dvd e o vídeo cassete
Há uma força geradora que a vida conclamou
E em nossos valores o caminho remete.

Entre a disciplina, a cultura e a preservação
Entre a sabedoria, o conhecimento e o encanto
Eis a maior tecnologia da educação
Que é o próprio elemento humano.

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quarta-feira, 9 de julho de 2008

Fim de festa




É bom me ver aqui feliz
nesse fim de festa
mesmo que isso não faça diferença.


É triste saber que houve os vencidos
nesses longos momentos vendidos
nestes grandes ventos medidos
dos mares do sul.


Mas danço com o ritmo da música.
Me olhando no espelho.
Controlando o grito do corpo.
Observando o movimento dos membros.


Busco em mim o que chamam sensual.
Trago em mim o que chamam natural.
Que toda vida tem,
que todo ser humano provem.


Solto o meu corpo pela imensa sala colorida de luzes de boate.
E o carnaval enxerga que o meu mal
não é nada perante essa mísera discórdia.


Sinto ainda ver cães, gatos e ratos
comendo na mesma mesa e no mesmo prato.
Rindo de nossas tragédias.
Chorando de nossa comédias.


Mostrarei o que guardava oculto em minha máscara negra,
pois sempre procurei em mim esse lindo beija-flor azul
dentro do horrível urubu que é o meu rosto ao nascer do sol.


Fui seqüestrado pela vida
e resgatado pela razão.
Não sou romântico, mas realista.
Não sou lúdico, mas otimista.


Lindo é saber que, apesar do desencontro,
fazemos todos nós parte do desequilibrado equilíbrio do meio ambiente.
E a morte do silêncio que vive entre nós
desgovernaria a harmonia existente,
destruiria a paz vigente
no fantástico universo da minha ilusão.


Agora vamos nos dar as mãos
e entrar nesta imensa roda
que o amor fez para nos unir.


E que minha luz clarividencie todo lado obscuro.
E que o mundo todo caiba em cima do muro
sem tamanho nem largura que é o coração de Deus.


Que venha uma chuva de água doce.
Tão doce como minha falsa lágrima
que corre deitada na pele
riscando o rosto e desaguando na boca.


Viva a redenção da vida.
Viva o sorriso da meretriz.
Viva a cicatriz da ferida.
O que a gente quer é final feliz.

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terça-feira, 1 de julho de 2008

PROJETO BAIRRO-ESCOLA: semeando arte e cultura entre as crianças de Nova Iguaçú.



Há muito a Baixada Fluminense deixou de ser o enorme celeiro de violência do Rio de Janeiro como a mídia tanto conclamava nos anos 80. Desde fevereiro venho atuando como agente educador de cultura na escola municipal Orestes Bernardo Cabral, no bairro de Vila de Cava, do município de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.

A iniciativa é do projeto bairro escola, realização do prefeito Lindberg Farias, visando aliar educação e cultura entre os alunos da Educação Básica das escolas do município. Intercalando as artes plásticas, a musica, o teatro, a dança e a literatura, artistas da região propõem alternativas de produção cultural onde as próprias crianças têm a oportunidade de criar obras artísticas como forma de reconhecer ou descobrir o próprio espaço onde atuam como sujeitos ativos e conscientes de todo o processo histórico-social.

Inspirado no discurso pedagógico do genial Paulo Freire, o empreendimento vem rendendo positivos e férteis frutos perante a comunidade iguaçuana como um todo. A democratização da produção artística e cultural conscientiza e promove o auto-conhecimento e com isso diminui ou ameniza a desigualdade e a violência. Se a vanguarda cultural realmente existe, talvez seu futuro esteja na periferia. Afrorregae e Nós do morro que o digam.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Você não conhece todos os meus versos




Você ainda não conhece os versos


que nascem na calada da madrugada fria


embaixo do cobertor.




Você não conhece os versos que nascem


quando sozinho, preocupado e sem graça


ando pelas ruas insossas de Belford Roxo


e vejo suas paredes descascadas,


seus comércios decadentes,


os adolescentes indo para a escola em bandos histéricos,


os homens nus da cintura para cima bebendo cerveja,


as mulheres carregando sacolas de supermercado,


as crianças brincando,


os muros pixados,


os terraços das casas perdidos entre as abóbadas das árvores,


o asfalto sujo e corroído de excremento de cavalo.




Você não conhece os versos que nascem


quando ao ouvir canções de amor


me derreto como o sorvete


que se derrete ao calor da língua,


pois somente nos meus versos


posso, quero e devo fazer amor,


não só com mulheres e homens,


mas também com crianças, bichos,


plantas, coisas, anjos, santos


e Deus muito além das orações.




Você não sabe que meus versos


querendo conquistar além de amizades


acabam saqueando corações e almas


e não conseguem saquear corpos.


É mais louvável, belo e heróico


saquear corações e almas,


mas meus versos, mesmo assim,


sentem inveja do versos que saqueiam corpos.




Eles também desejam as efemeridades,


as futilidades, as inutilidades, os escárnios,


as zombarias, os abusos, os excessos,


as orgias, as luxurias, o prazer.




Meus versos piratas


não querem o ouro,


não querem a prata,


não querem o euro,


nem o dólar.




Eles querem a bobeira, a palhaçada,


a maluquice, a brincadeira.




Portanto,


não me venha com seu falso equilíbrio,


seu cuidado, seu bom senso, seu "você há de convir",


seu "não é bem assim", seu "você tem certeza?",


seu "pense melhor", seu "você pode se arrepender".




Seu tudo aquilo que é a gaiola do mundo,


o cadeado do sonho,


a grade da vida


que quer encarceirar o céu


que pare a pomba branca da paz,


a terra que pare o lôdo,


o espelho que mostra a minha cara


parindo minha barba e meu bigode,


o sentimento que pare o gesto,


o pensamento que pare a palavra,


a natureza que pare a paixão.




É...


Você não conhece todos os meus versos.

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