"Marcio é maravilhoso

Marcio é divino

Marcio é moço fino

Rufino é homem com olhar de menino

Marcio é decidido

Marcio é mestre, brilha no ensino

Marcio é guerreiro...

E nesse Emaranhado Rufiniano, quero me emaranhar."

(Camila Senna)















sexta-feira, 29 de junho de 2007

Negra Loura

Desceu em Belford Roxo
de um ônibus que vinha de Vilar dos Telles.
Sua pele era de feijoada
mas seu cabelo era puro trigo.
Sua pele era de noite
mas o seu cabelo era o horizonte de tardinha.

Falsa britânica.
Nórdica preta.
Africana de cabelo pintado entre o castanho e o dourado.
Zulu disfarçada de branca.

Entrou na padaria
pediu um refrigerante
e cruzou suas grossas coxas
debaixo de um curtíssimo jeans rasgado.

A rapaziada toda olhou e babou
ela toda no pensamento
imaginando estar no século retrasado
e possuir aquele território à revelia
que parece ter saído de uma letra
de Benjor ou Melodia.

Bebeu tudo numa só golada
pagando a conta.
Saiu não só levando
o louro e duro cabelo entrançado
acima do sorriso amarelo
mas também o olhar de todos nós
entre aquele busto
que eram dois maduros jamelões gigantes
embaixo daquele vermelho sutiã.

Sumiu entre pagodeiros e funkeiros
entre credores e devedores
entre viajantes e farofeiros
entre pequenos empresários e vendedores.

Ela saiu do nada
e foi com tudo para qualquer lugar
tomando seu sorvete demais
deixando em sua língua
que nos banhava em sonho
o sabor daquele morno verão.


Este é o meu poema mais popular e também faz parte do livro "Doces Versos da Paixão".

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2 comentários:

Unknown disse...

Oi.
Adorei seu poema! Nunca tinha visto nada, nem no registro artístico e nem em nenhum outro, que falasse bem de negras loiras. Muito bacana.

Felipe Mendonça disse...

Gostei muito desse poema. Me lembrou "A uma passante" de Charles Baudelaire. O notável é que sua passante é uma "Zulu disfarçada de branca" que "Desceu em Belford Roxo vinda de Vilar dos Teles". Esse poema tem a alma da baixada fluminense como o de Baudelaire tinha a da Paris da segunda metade do século XIX. Vc conhece bem sua terra; deve escrever mais sobre ela.