"Marcio é maravilhoso

Marcio é divino

Marcio é moço fino

Rufino é homem com olhar de menino

Marcio é decidido

Marcio é mestre, brilha no ensino

Marcio é guerreiro...

E nesse Emaranhado Rufiniano, quero me emaranhar."

(Camila Senna)















segunda-feira, 27 de junho de 2011

Indócil Idílio



Devido a feroz solidão que em meu peito aperta
Eu nem me dou conta da reluzente estrela cadente
Que bem devagar e sem cerimônia despenca na nossa frente
Dizendo que a luz que aponta para o nosso futuro é muito incerta.

Era uma noite melancólica
Os comércios estavam fechados
Nossos passos eram largos
E a gente passeava pela rua bucólica.

As coisas aparecem e desaparecem sem deixar rastro
No mundo tudo passa muito rápido
Os pensamentos se diluem como se tomassem ácido
Ou se quebram com facilidade como vaso de alabastro.

Este seu ar de quem subjugou toda uma cilvilização
E percebeu que isso não valeu de nada
Lembra o soldado que, aleijado, tenta manter a guarda.
Tudo cai aos nossos pés; cidades, pessoas, menos um coração.

Conforme nossos atos, podemos ser na vida animais ou vermes
Mas sempre estamos atrás de algo que se reproduza
Acho que em outra vida fui a espada com a qual Perseu cortou a cabeça da Medusa
Ou com a qual Judite cortou a cabeça de Holofernes.

De meu ser e minha gente sou orgulhoso
Amar a mim e a meu povo é o que me resta.
Nunca diga que uma pessoa não presta
Pois cada ser-humano é um mistério mavioso.

Enquanto julgavas que era para teu pé um calo
E na tua vida nada mais que um peso morto
Eu me perdia nas matas negras do teu corpo
E descobria que teu coração morava dentro do teu falo.

Quem haverá de salvar nossa juventude alada
Enxugar suas lágrimas de Alexandre castrado
Que chora amores perdidos do passado
Lamenta toda sua virilidade prostrada?

De tudo que não é do bem eu tenho asco
Mas o meu sonho é nós nos entendermos sem compromisso
Botarmos para fora todo desejo reprimidamente omisso
Rei Salomão e a Rainha de Sabá fazendo amor numa cama de Damasco.

Sei que de meu opróbrio não sou digno de redenção
Cabe a mim gemer o gemido atroz da ema
Queria ser mais imortal do que um lindo poema
Mas minha humanidade é a minha real maldição.

Nosso caso com muita dificuldade respira
Nas veredas tortuosas de suas artérias
Morrendo para dar vida a outras matérias
Na superfície da minha pele que transpira.

O lance é mandarmos o medo para um lugar onde ele se debande
Resgatamos nossa sinceridade perdida de criança
Reconquistarmos com labuta nossa auto-confiança
Pois dizer "eu te amo" é uma responsabilidade muito grande.

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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Quarto Azul


Em câmera lenta
subo a pequena escada
chego ao corredor estreito
de onde avisto uma intrigante
porta encostada.

Numa triste submissão
a uma força superior
caminho sem pensar em nada
em direção à porta encostada.

Porta feita de madeira marrom.
Marrom que lembra minha infância.
Não sei se querida.
Não sei se partida.
Não sei se perdida.

Empurro a porta.
Vejo um quarto.
O quarto é azul.
Um azul de vários azuis.

Azul-céu.
Azul-mar.
Azul-noite.
Azul-piscina.

Dentro do quarto
há uma cama.
Sobre a cama
há uma pessoa nua.
Por cima da pessoa
havia várias moscas a voarem.
Não sei se desnorteadas.
Não sei se mal-amadas.

Sentei do lado da pessoa nua
e ela me falou de coisas
que pensou, que falou,
que comeu, que bebeu,
que desejou, que amou.

E sem saber ela me conduziu a planetas desconhecidos,
me apresentou a seres bizarros,
me fez cheirar aromas finos,
provar pratos requintados.

Foi quando notei que eu também estava nú.
E que as moscas haviam se transformado em estrelas
que cairam exaustas no chão.

E a cama já não era mais cama.
Mas um pequeno barco a vela.
Vela que era pura seda,
puxada a vento que não existia.

E o quarto virava pura água.
Não sei se de mar, ou de rio.
Só sei que virou o barco,
nos fazendo nadar.

Nada
era eu
Paralisado diante daqueles acontecimentos.

E o que eu vivia se tornava puro sonho.
O que eu sentia se transformava em raiva.
Raiva que até hoje não passa
por eu ter conseguido me salvar daquele doce naufrágio.
Naufrágio que me fez esquecer o quanto eu sou real.

Mas tudo foi extinto como um vulcão.
E minha amada pessoa nua
agora era um personagem de ficção.
E meu saudoso quarto azul
um delírio de um jovem garotão.


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