"Marcio é maravilhoso

Marcio é divino

Marcio é moço fino

Rufino é homem com olhar de menino

Marcio é decidido

Marcio é mestre, brilha no ensino

Marcio é guerreiro...

E nesse Emaranhado Rufiniano, quero me emaranhar."

(Camila Senna)















quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Poesia na calçada




No dia 24/09/2010 a Gambiarra Profana promoveu o primeiro Poesia na Calçada no bairro de Nova Aurora em Belford Roxo,RJ. Onde contou com a participação de Fabiano Soares da Silva, GabrielaBoechat, Lenne Butterfly, Arnoldo Pimentel, Márcio Rufino, Cláudia "A Paulistinha", Bom Cabelo, Agnaldo Estrela, Rafael Polemiko Garcia, Lola,
Rosilene Ramos, Marcelo Muniz Machado, Craken Icarus, Léo do Pelô, Vinicius
Siqueira e Sergio-SalleS-oigerS.

Este vídeo mostra alguns momentos deste encontro de poetas tendo como tema musical Sérgio Sampaio com sua "Cada lugar na sua coisa".

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A mulher de hoje em dia

Traição: Enganar perfidamente, atraiçoar/ Faltar ao cumprimento de/ Revelar/ Deformar, não traduzir com fidelidade/Não ajudar, abandonar/Denunciar-se por imprudência: comprometer-se; desnudar o pensamento.

A lua estava deslumbrantemente linda naquela madrugada de segunda para terça, quando eu e meu amigo, o poeta e sociólogo Henrique Souza saímos do Sport Club Iguaçu na festa de aniversário do cantor e compositor Daniel Guerra e caminhamos até o centro de Nova Iguaçu. Quando chegamos na Otávio Tarquínio, Henrique tomou seu rumo e eu segui o meu olhando para a lua cheia, imponente, inteira, poderosa, resplandecente; luzindo na escuridão enigmática do firmamento. Hipnotizado como eu estava por aquela lua, se viesse um ladrão me roubar eu nem me daria à mínima conta disso. Mas a baixada, graças à Deus, ainda é um pedacinho de Rio de Janeiro onde ainda se pode respirar um mínimo de liberdade ingênua no caos urbano do cotidiano.

Quando cheguei ao ponto para pegar a kombi que me levaria à Belford Roxo, vi parado ali um lindo casal de jovens negros abraçados se beijando apaixonadamente. Seus braços, lábios e coxas se articulavam e interagiam de forma tão harmoniosa que pareciam querer fundir-los em um só como numa experimentação alquímica. Para uma madrugada sedutoramente enluarada como aquela, não poderia existir cena que viesse a calhar melhor.

- Que horas você vai ligar pro meu celular? – Perguntou ela num frenesi.

- Lá pra de tarde! – Respondeu ele num sorriso sem-vergonha de sátiro do bosque.

Enfim a kombi chegou. Como o casal demorava a se entreter no sensual entrelace, tomei a liberdade de ser o primeiro a entrar. Alguns sedentos e calientes minutos de pegação depois, a moça se despediu do rapaz entrou na kombi e sentou-se completamente relaxada na poltrona a meu lado.

- Ai, meu Deus! Quando eu chegar em casa meu marido vai me matar! – Disse ela num sorriso puro de menina sapeca.

Eis que surgiu em mim um sutil choque.

- Ah! Você diz à ele que estava fazendo serão até mais tarde! – Respondi cínico.

- Mas eu não trabalho não, moço! – Respondeu-me num ar escorregadio. – Tô na rua desde às 18:00. Tô aqui só imaginando a cara dele quando chegou em casa e viu as crianças sozinhas sem eu lá.

Quase que eu gritei: ”sua sem-vergonha, vagabunda. Você não tem vergonha na cara sua cachorra?”.

- Hoje em dia o homem aceita tudo de uma mulher bonita como você! – Acabei falando amigavelmente.

- Que nada! Quando eu chegar lá em casa vou encontrar minhas coisas na calçada. Aliás... As minhas não... As dele... O quintal é meu!

Quando a kombi chegou no bairro Heliópolis ela pediu para o motorista parar no próximo ponto. Chegando lá.

- Tchau, moço!

-Tchau, gata!

E ela desembarcou, atravessou a rua e seguiu adiante levando consigo, como um anjo que leva sua auréola, aquela bela, rechonchuda e iluminadíssima lua cheia daquela arrebatadora madrugada.

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sábado, 18 de setembro de 2010

Homenagem da bela poeta Camila Senna




Essa é uma singela homenagem de uma querida amiga e poeta, integrante do grupo Pó de Poesia Camila Senna. É isso que nos faz ter orgulho de ser poeta, além de, é claro, saber que nossa poesia chega nos corações das pessoas. À minha amada amiga Camila, meu eterno e comovidíssimo muito obrigado:

O Poeta Divino Marcio Rufino

Escrevi esse poema para meu amigo Márcio.
Que brilha como o sol...
Que rima com um verso...

Talentoso é esse menino, o Poeta Márcio Rufino...

Cativo das letras e dos livros...
Como é audaz Márcio Rufino, que é poeta desde menino.

Autor de valor...
Todos deveriam ler.
Os poemas que ele escreve nunca mais irão esquecer...
Porque ele é poeta de verdade e merece aparecer.
Não para se engrandecer, mas para sua obra e sua alma
mais nobre ainda ser...

Talentoso é esse menino o Poeta Divino Márcio Rufino.


Camila Senna

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Marcio Rufino interpreta Tayguara

Gambiarra Profana apresenta um ligeiro momento de pagação de mico num sábado de início de primavera à noite num bairro qualquer da Baixada Fluminense do poeta que vos escreve:

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sergio e Maria Rita

Casal sm 1. Par composto de macho e fêmea, ou homem e mulher. 2. Par formado para a dança.



Sérgio tinha 27 anos e Maria Rita 13 quando se casaram. Os dois estavam prometidos um ao outro desde o nascimento de Maria Rita. Ela, ingênua, sem fazer idéia do que aconteceria, chegava até a pedir a benção ao belo rapaz negro quando era menina. Qual não foi o tamanho do susto quando ela, também negra, soube do casório programado para o dia seguinte. Mas como casal é a afirmação de uma aventura insólita no absurdo involuntário do desejo e da paixão que transcende até as diferenças de sexo, ela - com pavor, curiosidade, interesse, vergonha, medo e ímpeto - não teve outro remédio senão aceitar.


Casaram, vieram os filhos; os cinco primeiros morreram de febre amarela, mas depois vieram mais doze. Desses seis também morreram. Vingaram seis. Depois de morarem em alguns lugares, compraram um terreno enorme com uma bela casinha e ali plantaram várias frutas, legumes, verduras e cultivaram várias plantas e ervas para chás, enfim, cumpriram o papel, a função primitiva dos pares que procriam, que geram, que semeiam. Sérgio foi trabalhar na Companhia das Águas e Maria Rita foi lavar e passar roupa para fora para pagarem o terreno. Os filhos cresceram e casaram. As festas, os perus e leitões assados, as bebidas, o som do calango tocando a noite inteira. Era um casal muito festeiro, que sabia celebrar a vida com os parentes e amigos.


Quando nasciam os netos, a própria Maria Rita era quem fazia os partos e cuidava de perto dos resguardos das filhas e das noras e dos umbigos dos bebês. Com seus mistérios sabia calcular o dia e a hora em que os bebês foram concebidos. Mas nem tudo foram flores. Sérgio tratou de honrar a tradicional, cultural e imatura macheza ao arrumar uma amante entre as vizinhas amigas da esposa, freqüentadoras das festas em sua casa. Seu nome era Laura e ela se encontrava furtivamente com Sérgio perto da estação de trem. Maria Rita suportou tudo calada, mantendo a dignidade de uma dama do lar, de uma matrona austera em sua indignação. Só que Laura adoeceu fatalmente e vendo em sua doença um castigo, agonizou aos gritos em sua casa, pedindo, implorando o perdão de Maria Rita. Esta, cristã, perdoou em oração a rival que pôde se despedir deste mundo em paz.


As coisas não iam muito bem para Sérgio. Já idoso parecia estar variando da mente. Depois de uma violenta discussão, bateu em Maria Rita. O netinho João Renato ao ver tudo começou a berrar. Sérgio se irritou e voou no pescoço do menino tentando estrangulá-lo. Maria Rita tentava salvar o neto das garras do insano avô e só conseguiu depois de acertar a cabeça do marido com um pedaço de pau. Internam Sérgio numa clínica. Lá levam frutas e biscoitos que ele se nega a dividir com os companheiros de quarto. Estes, para se vingarem, numa noite cegam os olhos de Sérgio com um estilete. Daí Sérgio vai definhando até morrer.


No dia do enterro, quando chega em casa, Maria Rita vê Sérgio olhando-a debaixo da mangueira do quintal. O fato se repete na missa de sétimo dia. A viúva vai até o centro espírita do médium Zé Moreno e lá fica constatado que Sérgio, antes de adoecer, enterrava uma caixa de dinheiro que vinha economizando à sombra da mangueira do quintal da casa. Só depois que Maria Rita desenterrou a caixa de dinheiro que ela nunca mais viu o finado marido em toda sua vida que também se findou vinte anos depois.


Sérgio e Maria Rita formaram par para dançar a estranha e louca dança da vida. A dança cujo os passos não se aprende. Eles surgem e seguem por si só, involuntários, efêmeros, inesperados. Às vezes tropeçando em uns, jogando outros para fora do salão. Dança em que não se sabe quem dança bem ou dança mal. Apenas se dança, já que não há como não se puxar ou ser puxado para dançar; pois estamos todos juntos nesse embalo frenético e cíclico da condição humana onde você não dança com o que tem, mas com o que pode. Eu sou uma das coisas que resultou dessa dança. Pois Sérgio e Maria Rita, meus queridos leitores, eram meus bisavós.


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